sábado, 21 de setembro de 2024

sobre a Beleza


1) Conforme a sabedoria antiga nos ensina, a única realidade é a eterna impermanência, a despropositada efemeridade, a caótica transitoriedade – e, portanto, permanência, propósito, harmonia;

2) Não nos cabe domesticar a realidade, e sim amá-la: quanto mais amamos a realidade em sua multiplicidade una, mais próximos estamos de nós mesmos, mais próximos estamos de universalizar-nos, mais próximos estamos da Beleza;

3) Posto que a Beleza só acalenta aqueles que disciplinam o espírito para senti-la, cumpre-nos aprender a cultivar a “calma nas percepções, concentração na mente e serenidade no coração” (Katha Upanishad);

4) Seguem-se, portanto, duas possibilidades para quem lê a Olímpica II e permanece intocado. A primeira: não a leu corretamente; a segunda: não é suficientemente sensível – ou seja, não está à altura de Píndaro;

5) Nietzsche: “Estou convencido de que a arte é o fim supremo e a verdadeira atividade metafísica desta vida”. Correto: porquanto a verdadeira arte constitui a atividade humana que tem como propósito conduzir-nos à contemplação, é apenas através do sentimento artístico em suas variadas nuances que o homem poderá alcançar em si o estado necessário para apreender a Beleza;

6) A Beleza, então: Aretê, Brahman, Ein Sof, o Logos, o Tao, Nirvana, Cristo – um fim em si; sua argila: a indiferença da folha, o semblante do navegador, a solitude da nuvem, o suspiro do guerreiro, a mudez da noite; seu Prometeu: o olho, o ouvido, o corpo capaz de contemplar, admirar, sublimar a realidade;

7) Eliot:
“Datta. Dayadhvam. Damyata.
Shantih shantih shantih”.


(Atenas, 9/24)

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