sábado, 28 de setembro de 2024

Atenas, 28/9

A Beleza: o mistério que dá vida aos corações verdadeiramente sensíveis da humanidade – o mistério que Nick desvenda na lua, e Tranströmer desvenda em Haydn, e Celan desvenda na janela, e Drummond desvenda na flor, e Quasimodo desvenda na chuva, e Eliot desvenda em Cristo, e Pound desvenda no vento, e Nietzsche desvenda em Dioniso, e Emerson desvenda no arbusto, e Saigyō desvenda na cerejeira, e Virgílio desvenda na liberdade, e Vyasa desvenda em Vishnu, e Ésquilo desvenda em Zeus, e Píndaro desvenda na música, e Heráclito desvenda no Logos, e Safo desvenda no amor, e Tirteu desvenda na pátria, e Homero desvenda em Calíope.
Ensina-nos o mestre americano:
“No reason can be asked or given why the soul seeks beauty. Beauty, in its largest and profoundest sense, is one expression for the universe. God is the all-fair. Truth, and goodness, and beauty, are but different faces of the same All.”

sábado, 21 de setembro de 2024

sobre a Beleza

     1) Conforme a sabedoria antiga nos ensina, a única realidade é a eterna impermanência, a despropositada efemeridade, a caótica transitoriedade – e, portanto, permanência, propósito, harmonia;
     2) Não nos cabe domesticar a realidade, e sim amá-la: quanto mais amamos a realidade em sua multiplicidade una, mais próximos estamos de nós mesmos, mais próximos estamos de universalizar-nos, mais próximos estamos da Beleza;
     3) Posto que só é possível atingir a Beleza – a condição em que superamos as barreiras do ego e transcendemos Maya – àqueles que devidamente disciplinam a alma para atingi-la, cumpre-nos aprender a cultivar a “calma nas percepções, concentração na mente e serenidade no coração” (Katha Upanishad);
     4) Seguem-se, portanto, duas possibilidades para quem lê a Olímpica II e permanece intocado. A primeira: não a leu corretamente; a segunda: não é suficientemente sensível – ou seja, não está à altura de Píndaro;
     5) A Beleza, então: Aretê, Brahman, Ein Sof, o Logos, o Tao, Nirvana, Cristo – um fim em si; sua argila: a indiferença da folha, o semblante do navegador, a solitude da nuvem, o suspiro do guerreiro, a mudez da noite; seu Prometeu: o olho, o ouvido, o corpo capaz de contemplar, admirar, sublimar a realidade;
     6) Ésquilo:
“Ζεύς, ὅστις ποτ᾽ ἐστίν, εἰ τόδ᾽ αὐ-
τῷ φίλον κεκλημένῳ,
τοῦτό νιν προσεννέπω.”
(Agamemnon 160-2)


(Atenas, 9/24)

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

sem título (8)

Cinco horas. Febo rouba do fogo uma face, e os minutos se libertam um pouco de cada vez. Tenho ainda sede daquele átimo que nos foi berço: ...