quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Paris, 23/10

Vim a Thiais para depositar flores no túmulo de Celan. O ambiente repousa em sereno silêncio; penso que o poeta está feliz aqui. Sou um discípulo de Celan: escrevo porque busco descobrir-me, orientar-me, mensurar a minha própria realidade. Por coincidência, é outono – “somos amigos”.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

11/10

E a noite cai sobre a Acrópole. A Grécia de hoje é cinza, eclipse, incêndio de um tempo findo – um tempo de homens livres, valentes e felizes. Olho para a pálida lua minguante e penso: esta é a mesma lua que Ésquilo um dia viu.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

sem título (2)


Bebo o teu copo de areia –
de novo, o chão se molha.

O pardal traz a agulha;
a agulha fia o cetro.
É tempo de mãos sujas.

Alguém, no escuro, ainda
recolhe cacos da aurora.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

1/10

Creio no Deus de Emerson – o Deus que constitui a essência misteriosa, inefável e eterna de tudo; o Deus que reside em nós, transcendendo os limites da linguagem, da razão e do ego; o Deus que somos através da Beleza, do Bem e da Verdade. As mais nobres tradições da humanidade descobriram-No em manifestações, símbolos e nomes distintos: cada uma delas está correta à sua maneira. Somente se compreendermos isso é que poderemos verdadeiramente celebrar a existência em sua realidade primordial, múltipla, subjetiva. Ensina-nos um Upanishad: “De fato, quem ascende ao conhecimento de Deus torna-se Deus.”

sem título (4)

Escapa à vida o quase-sopro; a não-palavra sangra. Devo temer o outro rosto no espelho? Não sei. Desato-te em linhas ou relógio ou ponte ou...