sábado, 4 de maio de 2024

sem título (4)


Se me falham naus, 
singro as folhas de um deus morto.
 
Ou, talvez, a primavera
amadureça nos espelhos:
meu minuto redime
infinitos impossíveis.

E, mesmo sem saber
quem tingiu de ferro a rosa,
sinto que a morte depura

palavras transitórias.

E respiro, todavia, meu amor
imortal, pétala, nuvem.

sábado, 23 de março de 2024

Sem título (3)


O espelho oprime, liberta.

E confesso: também eu
cultivei grãos de ferro.

De ti ficam calhaus,
fica a chance de crescerem
jardins na palma da mão.

sexta-feira, 1 de março de 2024

três haicais na Espanha


1.
À beira do Tormes,
sei: céu cinza, galhos nus.
E os gorjeios vivem.

2.
A velha muralha
sonha com batalhas velhas.
Nascem novas chamas.

3.
Longas finitudes,
os flocos de Candelario
calam-se às montanhas.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Salamanca, Espanha


Um sol já frio
beija a noite no meu rosto.

Percebo: o vento existe
porque algo quer nascer.

E quando a cor azul
se libertou dos tijolos?

O tempo não diz.
E ouço apenas o silêncio 

de um sussurro humano.

domingo, 10 de dezembro de 2023

Nostos


Dia: sedas, falhas;
noite: malhas, perdas.

E do asfalto já não brotam
pedaços de sol.

Mas busco, ávido ainda,
as rugas caprichosas, mãos
salgadas de lua:

resta, lassa, a vida,
um sopro, uma pluma.

Naufrago, então,
e te nado: encontro,
no teu mar, uma ilha
de eternidade.

domingo, 3 de dezembro de 2023

três haicais (rascunho)


1.
O que nos contaram
a tarde e o vento da tarde 
já se esvaeceu?

2.
Amor: nau sem vela.
Ponho no anzol algum sonho
e pesco uma estrela.

3.
Manhã. Sopro e paz.
Nuvens passam. E o sol diz
que a vida é fugaz.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

sem título (2)


Afagam-se os suspiros 
o corpo é um labirinto,
sempre acabo em tua curva.

A chuva aguda não fala.
E não sei que estranha voz
me veio habitar o silêncio.

Desato-te em linhas:
se me agrilhoa teu eco,
busco Ítacas novas

e respiro entre marés.
Escapo à janela, escapas 
a outro céu, às lágrimas.

sem título (4)

Se me falham naus,  singro as folhas de um deus morto.   Ou, talvez, a primavera amadureça nos espelhos: meu minuto redime infinitos imp...