quarta-feira, 16 de julho de 2025

sem título (4)


Escapa à vida
o quase-sopro; a não-palavra

sangra. Devo temer
o outro rosto no espelho?

Não sei. Desato-te em linhas
ou relógio ou ponte ou fio

de sol: Febo ainda te ama.
E, se me falha o mar, singro

as folhas de um deus morto.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

sem título (3)


I.
O calor me entra
pelos ossos.

II.

Morte a morte, galho a galho,
vejo-te, maior, correr –
vejo-te contemporânea
só de nuvens de algodão.

III.
O que no coração nunca
finda é a voz do mar,
o mar de julho, o de Homero,
o nosso.

sábado, 23 de novembro de 2024

Delfos, 23/11

De fato, a espiritualidade da civilização não poderia ter sido moldada de um lugar mais impressionante do que este. Parece que tudo em Delfos nos inspira: a imensidão da planície, o silêncio do céu, a Beleza das ruínas. É aqui que melhor vislumbramos como são os Campos Elísios. Sinto-me em paz entre as montanhas deste santuário; sigo em meu processo de renovação anímica: “Conhece a ti mesmo”, dizia a famosa máxima délfica.

sábado, 16 de novembro de 2024

Ítaca, 16/11

Embora, evidentemente, a μῆτις de Ulisses muito nos fascine, ela é um atributo secundário: o humanismo essencial da Odisseia deve-se, antes de qualquer coisa, ao caráter errante do herói que lhe dá nome. Vemos em Ulisses um modelo de homem por sua determinação, por sua intrepidez, por sua autodisciplina, por seu sofrimento e por sua perseverança. Escreve Tennyson: “To strive, to seek, to find, and not to yield.”

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Paris, 23/10

Vim a Thiais para depositar flores no túmulo de Celan. O ambiente repousa em sereno silêncio; penso que o poeta está feliz aqui. Sou um discípulo de Celan: escrevo porque busco descobrir-me, orientar-me, mensurar a minha própria realidade. Por coincidência, é outono – “somos amigos”.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

11/10

E a noite cai sobre a Acrópole. A Grécia de hoje é cinza, eclipse, incêndio de um tempo findo – um tempo de homens livres, valentes e felizes. Olho para a pálida lua minguante e penso: esta é a mesma lua que Ésquilo um dia viu.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

sem título (2)


Bebo o teu copo de areia –
de novo, o chão se molha.

O pardal traz a agulha;
a agulha fia o cetro.
É tempo de mãos sujas.

Alguém, no escuro, ainda
recolhe cacos da aurora.

sem título (4)

Escapa à vida o quase-sopro; a não-palavra sangra. Devo temer o outro rosto no espelho? Não sei. Desato-te em linhas ou relógio ou ponte ou...